A morte de Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda, aos 96 anos, reacendeu debates sobre seu papel durante o regime militar brasileiro, especialmente sua participação na assinatura do Ato Institucional nº 5 (AI-5).
O jornalista e analista de risco político Thomas Traumann, em participação no programa WW da CNN Brasil, ofereceu uma análise crítica sobre as justificativas apresentadas por Delfim para a implementação desta medida controversa.
O AI-5, promulgado em 13 de dezembro de 1968, marcou o início do período mais repressivo da ditadura militar no Brasil, conhecido como “anos de chumbo”.
Traumann contestou a afirmação de Delfim Netto de que a assinatura do ato era “o que se tinha que fazer” na época, argumentando que não havia ameaça real ao regime militar que justificasse tal medida.
Traumann explicou: “Em 68, havia motivos para dizer que o regime militar não estava ameaçado, o Estado brasileiro não estava ameaçado a ponto de que ele precisava, mesmo sobre essa hipótese paranóica militar, fazer aquilo”.
O jornalista ressaltou o risco de anacronismo ao analisar figuras históricas, mas manteve sua posição crítica quanto à necessidade do AI-5.
O analista político também destacou como Delfim Netto utilizou o poder conferido pelo AI-5 para implementar rapidamente mudanças significativas, como a reforma tributária que criou o ICM (atual ICMS) em apenas um mês, sem necessidade de aprovação do Congresso.
“A lógica do Delfim era uma lógica incorreta na minha avaliação, mas a lógica é tipo assim, me dê poder que eu exerço”, afirmou Traumann.
Legado controverso e reflexões históricas
Apesar de Delfim Netto ter mantido sua posição de que havia uma ameaça ao regime que justificava o AI-5, Traumann concluiu que, historicamente, essa avaliação se provou “muito incorreta aos fatos”.
Esta análise levanta questões importantes sobre o uso do poder durante períodos autoritários e as justificativas oferecidas por figuras históricas para ações controversas.
A reflexão sobre o papel de Delfim Netto no AI-5 serve como um lembrete da importância de examinar criticamente eventos históricos e as narrativas construídas em torno deles, especialmente em momentos de transição democrática e avaliação do legado de períodos autoritários.
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