11/22/2024

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sonho arquitetônico que nunca saiu do papel

Em meio ao verde exuberante do Parque dos Poderes, em Campo Grande, reside uma história inacabada, um sonho arquitetônico que se perdeu no tempo. O Palácio do Governo do Estado, projetado para ser o coração administrativo de Mato Grosso do Sul, nunca foi construído. Mas a memória desse projeto grandioso ainda ecoa nas palavras de Fayez José Rizk, um dos arquitetos responsáveis por essa obra-prima perdida.

Arquiteto Fayez José Rizk mostra projeto do Palácio do Governo de MS (Foto: Michel Pena)

Nesta sexta-feira (11) em que Mato Grosso do Sul comemora 47 anos de criação, em uma entrevista exclusiva, Fayez nos conduz por uma jornada emocionante, revelando os bastidores da criação e da frustração que acompanhou esse projeto.

O ano era 1982 e Mato Grosso do Sul ainda estava em processo de consolidação como estado. Um concurso público foi realizado para escolha de um projeto da sede oficial do Executivo estadual no Parque dos Poderes. O projeto vencedor foi criado por Fayez, em parceria com os arquitetos Lauro Veloso Malaquias e Walter Cortez.

Projeto do Palácio do Governo de MS, elaborado pelos arquitetos Fayez José Rizk, Lauro Veloso Malaquias e Walter Cortez (Foto: Arquivo pessoal)
Projeto do Palácio do Governo de MS, elaborado pelos arquitetos Fayez José Rizk, Lauro Veloso Malaquias e Walter Cortez (Foto: Arquivo pessoal)

Formado em arquitetura pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) em 1978, Fayez voltou para Campo Grande logo após a criação de Mato Grosso do Sul. Ele relembra que a década de 80 foi um marco para a arquitetura no estado. “Foi a fase mais brilhante da arquitetura campo-grandense”, comenta.

Projeto do Palácio do Governo de MS, elaborado pelos arquitetos Fayez José Rizk, Lauro Veloso Malaquias e Walter Cortez (Foto: Arquivo pessoal)
Projeto do Palácio do Governo de MS, elaborado pelos arquitetos Fayez José Rizk, Lauro Veloso Malaquias e Walter Cortez (Foto: Arquivo pessoal)

O projeto arquitetônico proposto por Fayez e sua equipe seguia uma linha moderna e funcional.

“O edifício tinha um andar livre, modulável internamente, que poderia abrigar a Casa Civil e outras secretarias, e um grande pátio para exposições de arte.” A estrutura ainda previa uma garagem subterrânea e um gabinete elevado, garantindo maior segurança e praticidade para o governador.

Fayez José Rizk, arquiteto

Projeto do Palácio do Governo de MS, elaborado pelos arquitetos Fayez José Rizk, Lauro Veloso Malaquias e Walter Cortez (Foto: Arquivo pessoal)
Projeto do Palácio do Governo de MS, elaborado pelos arquitetos Fayez José Rizk, Lauro Veloso Malaquias e Walter Cortez (Foto: Arquivo pessoal)

Fayez descreve que o projeto tinha forte inspiração nas águas do Pantanal, incluindo cascatas, com forte referência no Palácio Itamaraty, um lago e elementos arquitetônicos que remetiam à paisagem natural. Além disso, a planta do edifício formava uma cruz, simbolizando a orientação e a liderança do governador. “Era um projeto que transcendia a mera construção de um edifício”, recorda ele, com os olhos brilhando. “Representava a alma de Mato Grosso do Sul, com suas referências ao Pantanal e ao Cerrado”.

Projeto do Palácio do Governo de MS, elaborado pelos arquitetos Fayez José Rizk, Lauro Veloso Malaquias e Walter Cortez (Foto: Arquivo pessoal)
Projeto do Palácio do Governo de MS, elaborado pelos arquitetos Fayez José Rizk, Lauro Veloso Malaquias e Walter Cortez (Foto: Arquivo pessoal)

O arquiteto descreve um projeto ousado, com linhas modernas e uma integração perfeita com a natureza. “Imagine um prédio que dialogasse com a paisagem, com no máximo 9 metros de altura, que fosse um marco para a cidade, mas sem ser invasivo”, complementa.

Alguns anos após o concurso em 1982, a pedido do governador da época, o projeto foi revisado e atualizado para incorporar novas tecnologias, como sistemas de informática, algo inovador para o período, mas manteve suas principais características. “Foi refeito todo o projeto. Readaptamos para novos materiais que já tinham surgido.”

Outra característica do palácio era a sua praticidade. “Aparentemente, é monumental, mas é um projeto estruturalmente muito simples. Não é um edifício caro de ser construído, ainda que fosse retomado.”

Infelizmente, várias questões políticas impediram a construção do Palácio do Governo. Fayez lamenta que, na época, o projeto não tenha sido visto como prioridade, embora fosse viável financeiramente.

Anos mais tarde, um novo concurso foi realizado para um projeto diferente, algo que o arquiteto critica: “Parecia um bolo de noiva”, desabafa, referindo-se ao novo desenho escolhido.

O projeto original, vencedor do concurso público de 1982, e que a equipe de Fayez, Lauro e Walter recebeu os honorários, acabou sendo arquivado e o espaço destinado à sua construção no Parque dos Poderes permanece vazio até hoje.

Montagem mostra projeto do Palácio do Governo de MS colocado na área do Parque dos Poderes, em Campo Grande (Foto: Reprodução/Google Maps/Arquivo)
Montagem mostra projeto do Palácio do Governo de MS colocado na área do Parque dos Poderes, em Campo Grande (Foto: Reprodução/Google Maps/Arquivo)

Apesar da ausência do palácio, a frustração preenche o coração do arquiteto. “Participamos de um concurso nacional, fomos o primeiro colocado no estado e não ter o projeto construído é uma frustração, me dá tristeza. É um abandono de pioneirismo. E não só meu, mas de toda uma equipe, todo mundo que trabalhou.”

Fayez acredita que parte do projeto ainda pode ser resgatada, mas destaca a dificuldade em encontrar as cópias dos desenhos originais. “Eram mais de 100 pranchas das plantas em papel vegetal que foram entregues ao governo da época. Não sei o que fizeram”.

Apesar disso, a lembrança desse capítulo importante da arquitetura sul-mato-grossense segue viva na memória de Fayez e daqueles que fizeram parte dessa fase pioneira.

Governadoria

O prédio da Governadoria de Mato Grosso do Sul, no Parque dos Poderes, foi inaugurado em 1983 junto com o restante do complexo. Projetado por Élvio Garabini, inicialmente seria apenas mais uma secretaria.

Governadoria de MS (Foto: Álvaro Rezende/Governo de MS)
Governadoria de MS (Foto: Álvaro Rezende/Governo de MS)

Em maio de 2024, a Agesul (Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos) publicou o contrato para execução de obra de ampliação e reforma do edifício sede da Segov (Secretaria de Estado de Governo e Gestão Estratégica), onde está a Governadoria, no valor de R$ 13,3 mi, com prazo final do serviço em 19 de abril de 2026. Até o momento foi pago R$ 892 mil pelo serviço.

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